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Celeste é indecifrável. Uma contradição pura. Mistura do sagrado e do profano. Vinda do céu, beleza celestial. Ela é resistência, junção de mulher e divindade. Goza subliminarmente de suas vontades. Não se curva ao desconhecido, a preces, conceitos e paradigmas. Quem sabe seja por isso que se tornou tão temida aos olhos de reles mortais. Há aqueles que a julgam perigosa, por atravessar portais, por transitar entre o céu e o inferno. Tem dentro dela as quatro estações. É a materialização completa da natureza. Fauna e flora. Brisa e vendaval. Tempestade e seca, a qual só se vê no sertão. Dona de tantas certezas, perdida por entre infinitas dúvidas. Vagou por entre os corpos celestes e aqui chegou. Como uma espécie de anjo caído, sem asas, sem penas, sem amarras. Muitos julgam que aqui na Terra, não é o seu lugar. Que ela pertence aos céus. Mas na descompassada viagem chamada vida, perdeu-se. Uma bússola desorientada. Um mapa do avesso. Uma estrada sem placas. De um lado o tudo. Do outro, nada. Não sabia como retornar ao paraíso. E, assim, pelas florestas vagou, por onde passou, deixou e foi luz. Sua ode entoava a suavidade do seu corpo, numa silenciosa composição poética que vertia por seus poros. Por entre as árvores, buscava incessantemente resgatar as memórias afetivas do seu universo. Celeste sabia que havia um pouco dela em cada lugar. Também sabia que mesmo a própria luz, possui sua escuridão. No breu, corria inutilmente buscando retornar aos céus. Se ela retornou, ninguém sabe. Há quem diga que é possível ouvir seu canto por entre floresta. Num lapso de distração, de longe, consegui fotografá-la. Por uma fração de segundos, cheguei a tocá-la, senti suas tristezas e angústias. É penoso em demasia, viver numa busca incessante, por reencontrar-se. Não sei ao certo se a empatia me consumiu ou se, quem sabe, tinha me tornado um aprendiz de anjo, que pelas minhas lentes, captava essências celestiais.
Texto de @Karoline_pinto